Thursday, December 28, 2006

Sinais dos Tempos?

Aloyzio Achutti. Membro da Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina

(Artigo publicado na ZH de hoje)

É lugar comum ao bater o relógio do tempo, quando um ciclo se fecha para dar lugar a outro, olhar para trás na busca de alguma característica marcante, preparando-se para a próxima rodada.

Não causaria surpresa se a escolha apontasse para a agressividade como o que de mais chocante marcou este ano. Pelo mundo afora e também por aqui.

Uma guerra que vai para cinco anos, na qual já foram imolados mais soldados do lado que se sentiu agredido, do que o número daqueles que pretendiam vingar. E têm sido jovens, selecionados e treinados, usando altas e riquíssimas técnicas e logística para matar. Sem falar da enorme instabilidade local provocada pela intervenção intempestiva, exacerbação de ódios, extermínio massificado e risco de generalização.

A agressão não é a primeira resposta adequada, nem remédio para outra agressão, pois termina gerando um efeito cascata com conseqüências imprevisíveis tanto no terreno biológico, como no psicológico e no social. É comum esta atitude criar um clima que compromete mesmo quem não está diretamente envolvido na disputa, fomentando a multiplicação de focos de violência.

Si se acredita em sanções econômicas capazes de frear essa escalada, esta seria uma boa oportunidade para se suspender a remessa de dinheiro - pretensamente devido para pagar uma dívida externa - mas que está sendo pessimamente e de forma hedionda empregado.

As agressões têm sido também morais, enquanto violam, a pretexto de direitos de uns, valores humanos, a autonomia e o direito internacional. Cria-se um clima de insegurança e de desespero. O vale tudo termina refletindo também em casa, dando chance a aproveitadores na corrupção política e na proliferação da criminalidade.

As agressões ao meio ambiente, com destruição e toda sorte de lixo acumulado há muito tempo mostram suas conseqüências cada vez mais ostensivas. Banalizam-se a falta de respeito com os outros e consigo mesmo: com exagero na intensidade do som, no tráfego, na propaganda, na violação da privacidade, na mentira, na omissão de responsabilidade, na exposição a riscos desnecessários e às chamadas atividades radicais, em atitudes suicidas, no excesso alimentar e nas drogas, desesperadamente, como se o mundo estivesse por acabar.

A agressividade é a virtude da arrogância e da insensatez. Nesses tempos tem se tornado modelo de desempenho e estratégia de competição no comércio, na indústria, na pesquisa científica, no esporte e até no estilo de vida. A agressividade consome e destrói e só encontra limite na autodestruição. O mundo não se estimula nem se move mais por amor e nem por cooperação.

É uma lástima ter que terminar mais um ano com esta sensação amarga, sem perspectiva da tão almejada e prometida paz aos homens de boa vontade...

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